domingo, 18 de maio de 2025

Homilia do Papa Leão XIV na Missa de Inauguração do Pontificado - 18 de maio de 2025

 

Saudação inicial

Queridos irmãos Cardeais,
Caros irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Distintas autoridades e membros do corpo diplomático,
Uma saudação afetuosa aos peregrinos aqui presentes, especialmente aos que vieram para o jubileu das irmandades. Irmãos e irmãs, saúdo todos vocês com um coração cheio de gratidão, neste início do ministério que me foi confiado.

Inquietação do coração humano

Escreveu Santo Agostinho:
"Fizeste-nos para vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em vós."

Nestes últimos dias, vivemos tempos particularmente intensos. Choramos a morte do Papa Francisco, que deixou nossos corações mergulhados em profunda tristeza.

Naquelas horas difíceis, sentimo-nos como as multidões do Evangelho: ovelhas sem pastor. Justamente no dia de Páscoa, recebemos a sua última bênção. E foi à luz da Ressurreição que enfrentamos este momento, certos de que o Senhor nunca abandona o seu povo. Ele o congrega quando se dispersa e o guarda com ternura.

O conclave e a eleição do novo pastor

Com este espírito de fé, o Colégio Cardinalício reuniu-se em conclave. Cada um vindo de histórias diferentes, caminhos diversos, mas todos colocando nas mãos de Deus o desejo de eleger o novo sucessor de Pedro — o bispo de Roma — um pastor capaz de guardar o rico patrimônio da fé cristã e, ao mesmo tempo, olhar para longe, indo ao encontro das interrogações, inquietações e desafios do tempo presente.

Acompanhados pela vossa oração, sentimos a ação do Espírito Santo. Ele soube harmonizar os diferentes instrumentos musicais e fez vibrar as cordas do nosso coração numa única melodia.

Fui escolhido sem qualquer mérito e com temor e tremor. Venho até vós como o irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria.

A missão de amor e unidade

Caminhemos juntos na estrada do amor de Deus, que nos quer unidos como uma só família. Amor e unidade — estas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro.

O trecho do Evangelho de hoje leva-nos ao lago de Tiberíades, o mesmo onde Jesus iniciou a missão recebida do Pai: pescar a humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte. Foi passando à beira daquele lago que Ele chamou Pedro e os primeiros discípulos, para que fossem pescadores de homens.

Agora, após a Ressurreição, é a eles que cabe continuar esta missão. Devem lançar, uma e outra vez, a rede do Evangelho, imergindo nas águas do mundo a esperança cristã. Devem navegar no mar da vida para que todos se reencontrem no abraço de Deus.

O amor que sustenta a missão

Como pode Pedro levar adiante essa tarefa? O Evangelho nos responde: somente porque experimentou, em sua vida, o amor infinito e incondicional de Deus — mesmo na hora do fracasso e da negação.

Por isso, quando Jesus pergunta a Pedro: “Simão, filho de João, tu amas-Me?”, usa o verbo agapao — o amor com que Deus nos ama, entrega sem reservas, sem cálculos. Pedro responde com o amor de amizade (fileo), o amor humano e limitado.

Mas é como se Jesus lhe dissesse: “Só se conheceres e experimentares o amor de Deus que nunca falha, poderás apascentar as minhas ovelhas.”
Só no amor do Pai, Pedro poderá amar os seus irmãos com algo a mais: oferecendo a vida por eles.

A Pedro, pois, é confiada a tarefa de amar mais e de dar a vida pelo rebanho.

A autoridade que nasce da caridade

O ministério de Pedro é marcado por esse amor oblativo. A Igreja de Roma preside na caridade. Sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata de capturar os outros com prepotência, propaganda religiosa ou meios de poder, mas de amar — como fez Jesus.

Ele é a pedra que os construtores desprezaram e que se tornou pedra angular. E se Cristo é a pedra, Pedro deve apascentar o rebanho sem ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe superior aos demais. Não deve dominar, mas servir.

É-lhe pedido que caminhe com os irmãos, servindo-lhes a fé.

Uma Igreja construída por todos

Todos nós somos pedras vivas. Pelo batismo, somos chamados a construir o edifício de Deus, na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito e na convivência das diversidades.

Como diz Santo Agostinho, a Igreja é feita de todos os que vivem em concórdia com seus irmãos e amam o próximo.

Gostaria que este fosse o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de comunhão, fermento de reconciliação para o mundo.

Um mundo ferido e uma Igreja reconciliadora

Nosso tempo ainda sofre com muitas divisões, feridas causadas pelo ódio, pela violência, pelos preconceitos, pelo medo do diferente, por um paradigma econômico que explora e marginaliza os mais pobres.

Queremos ser, nesse mundo, um pequeno fermento de comunhão, fraternidade e esperança.

Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria:
“Olha para Cristo. Aproxima-te d’Ele. Acolhe a sua Palavra, que ilumina e consola. Escuta sua proposta de amor, e torna-te membro de sua única família.”

No único Cristo, somos um só. Este é o caminho: caminhar juntos entre nós, com as outras Igrejas cristãs, com os que trilham caminhos religiosos distintos, com os buscadores de Deus, com todos os homens e mulheres de boa vontade — para juntos construirmos um mundo novo, onde reine a paz.

A hora do amor

Esse é o espírito missionário que deve nos mover. Não devemos nos fechar em pequenos grupos, nem sentir-nos superiores. Somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus — um amor que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal, a cultura de cada povo, a dignidade de cada ser humano.

Esta, irmãos e irmãs, é a hora do amor. A caridade de Deus que nos faz irmãos é o coração do Evangelho.

Com meu predecessor Leão XIII, podemos nos perguntar hoje:
“Não veríamos rapidamente instaurada a paz, se esses ensinamentos prevalecessem nas sociedades?”

Com a luz e a força do Espírito Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus, sinal de unidade, missionária, de braços abertos, que anuncia a Palavra, que se inquieta com a história, e que se torna fermento de concórdia para a humanidade.

Juntos, como um só povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus — e amemo-nos uns aos outros.

Transcrição da Escola Catequética Santo Agostinho

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